As sociedades que se enquadram na modernidade tardia mantêm uma total dependência do trabalho humano, apesar do entendimento visionário de que as sociedades humanas se libertarão cada vez mais da escravidão por força dos avanços na tecnologia. A aguardo o esse cenário, mas por enquanto, continuo a trabalhar muito, e com tecnologia!
A questão do trabalho e da profissão é central nas sociedades humanas contemporâneas, e os cidadãos dependem muito da relação com o mundo do trabalho (enquadrada numa relação laboral, contratualizada com distribuições desiguais de poder). Reparem que a maioria da população acede aos capitais económico e ao capital das relações e reciprocidades que se proporcionam em contexto de trabalho.
O trabalho relaciona-se diretamente com qualificações (acesso a) e com prestígio social. O trabalho define socialmente os seus protagonistas, quer queiramos quer não. Pelo mundo fora, deveria falar-se de algo que podemos definir como a qualidade de vida no trabalho, ou os indicadores de felicidade no trabalho. Estes indicadores recaem em várias dimensões que remetem para a qualidade da comunicação interna e concretamente para a qualidade do relacionamento com as chefias próximas. Relembra-se, com as temáticas da moda na gestão, que as relações laborais são desiguais, que o poder não é distribuído de forma igual na comunidade de trabalho que é cada organização.
A noção da construção de capital humano na organização afigura-se central como forma de dar conta dos desafios do mercado mundial de bens e de serviços. Os termos brand, branding, são associados a core skills, talento e competitividade. Portugal, por exemplo, está ainda numa fase de descoberta do recurso humano, que deve ser acarinhado, de modo a que verta o seu contributo para o crescimento da organização a que pertence.
A agenda 2030 da ONU e os seus objetivos de desenvolvimento sustentável dão continuidade a conteúdos relacionados ao trabalho contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, ou com o que é defendido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) fundada em 1919.
O objetivo de desenvolvimento sustentável 8 diz tudo: “Promover o crescimento económico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho no para todos. Garantir o desenvolvimento económico inclusivo e sustentável em todo o mundo. Alcançar níveis mais altos de produtividade económica por meio da diversificação, atualização tecnológica e inovação. Alcançar emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos, inclusive para jovens e pessoas com deficiência. Alcançar salário igual para trabalho de igual valor”.
Temos uma solução, ou um quebra-cabeças para as políticas públicas? Afinal, qual é o valor real do trabalho…como se afere e como se legitima esta aferição? Volto a insistir na vigilância e nos padrões europeus para Portugal. As Prioridades da União Europeia para o Emprego e o Trabalho Digno materializaram-se numa agenda de desenvolvimento para o emprego e o trabalho digno da União Europeia. Em 2017 foi lançado o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, constituído por 20 Princípios em três áreas fundamentais, designadamente Condições de Trabalho Justas.
Tenham sempre em mente o seguinte: é fácil voltar atrás. Ainda há muito poucos anos, a criança ir à escola era anormal em alguns grupos sociais. A 4ª classe era uma conquista (social e simbólica). O aumento do salário mínimo nacional é sempre um amargo de boca para alguns setores da população.
Artigo Opinião: José Morais